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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Verão Antigo

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ÍNTEGRA DO TEXTO PUBLICADO NA EDIÇÃO DE DEZEMBRO DE 2008
NA REVISTA FLUIR.
Caro Fred e Redação:

A matéria do Fred, na edição que comemora os 25 anos, merece algumas observações e retificações.
Com a falência da "Brasil Surf", nossa primeira revista de surfe, ficamos 3 anos sem mídia para cobrir o surfe profissional que então dava seus primeiros passos e ficou acéfalo, as competições sumiram e o mercado que recém engatinhava perdeu sua vitrine, foi aí que eu e Nilton, que estávamos na mesma casa no Hawaii , chegamos a conclusão de que não adiantava tirar foto, ter patrocínio, se não tínhamos como divulgar. Então resolvemos fazer uma revista.
Voltando ao Brasil com Ralph Canetti, Nilson Barbosa, Paulo Lima e mais alguns colaboradores, como Cesinha Chaves, etc. Fizemos a revista; eu estudava história e tinha patrocínio, pois disputava algumas provas no IPS. O Nilton era um fotógrafo em formação e o Ralf, músico como hoje, ou seja, experiência zero.
Fizemos a revista na raça e na vontade, levando em conta que ninguém tinha dinheiro... A Brasil nunca vendeu mais de 5 mil exemplares e era um sucesso. A Visual passou dos 120000, os textos eram do próprio Fred, Rosaldo Cavalcante (Alma), Tom Leão (O Globo), Evandro Mesquita (Blitz) entre outros, era o melhor que tínhamos na época e por aí vai. Jovens também sem experiência, mas com vontade de balançar estruturas, como bem o fizeram no futuro, ajudando a criar um mercado como nós víamos nos EUA. Cumprimos nossa missão, além disso, a Visual foi a primeira publicação no mundo, até onde sei. Tendo como o conceito editorial, esportes radicais e fazendo cobertura de vários eventos "linkados" nesta idéia, já que unimos o surfe, o carro chefe, ao skate, ao vôo livre, ao "wind surf" e aos recém lançados "bodyboard" e bicicross, literalmente uma revolução, mesmo no sentido editorial, perguntem aos pioneiros destes esportes o valor da publicação na época para seus mercados. Isto sem falar que tiramos o surfe e estes esportes do eixo Rio-São Paulo. Lembro-me que mandava 1000 revistas para Belo Horizonte e voltavam 980, no outro mês mandávamos 1200, até que um dia o encalhe era insignificante, ou seja, em 4 anos demos o maior impulso que estes esportes já tiveram no país, bem como a expansão do conceito "surfwear".
Não tenho procuração para defender o Nilton (em questão editorial), meu desafeto ,que morreu sem reatarmos a amizade, interrompida com o fim de nossa sociedade, quando justamente eu, o Ralph e o Paulo Lima ficamos contra a retaliação, raivosa e burra, dele contra a Fluir, recém-criada. Achávamos que era um a revista que agregava valor ao esporte, o que se mostrou verdadeiro quanto à competência editorial. Fica complicado falar com o suporte de hoje, 29 anos depois... Sem mexer em números, fica difícil analisar.
Ao término da Brasil Surf, o Bocão fez o tablóide Realce, que pretendia substituí-la, além de não vender nada, nunca passou da Av. Brasil, nunca teve uma foto de surfe como capa e era uma revista de comportamento (maurícios da praia), que só decolou na televisão, como programa voltado ao surf e ao skate, e muito bem diga-se de passagem (na época junto com a Fluminense FM do Luís Antônio), pois formávamos um bloco que trocava anúncios, o que foi fundamental para o "boom" do surfe na época. Mesmo assim, a Visual não foi apresentada como tal em reportagem assinada pelo próprio, sobre a mídia e o surfe no Brasil. Ironicamente, com as melhores fotos da matéria sendo da Visual (Nilton), que mereceu parcas linhas e um papel secundário para o Realce. Ao meu ver, um erro jornalístico e histórico, pois não resiste aos fatos e à menor análise... O próprio Fred, como editor, tentou fazer o seu tablóide, este sim voltado ao surfe e bem feito, com maior atenção voltada ao texto, mas com material fotográfico fraco e com visão bairrista (Rio), não pegou e o projeto editorial do Fred morreu. Portanto vemos que o D'orey foi duro com as palavras, pois não levou em conta nossa óbvia inexperiência e falta total de recursos, já que a revista era toda feita em um sala comercial. Portanto não valorizou a atitude, esta sim vitoriosa, pois sem a Visual, talvez não existisse a Fluir (pelo menos não navegaria em mar de almirante).
Como diz o Bruno nesta edição, era difícil fazer entender do que se tratavam as revistas de surfe. Pelo menos ele começou com referência e mercado mais afeito a estas novidades, inclusive a qualidade da revista.
Hoje a Fluir é nosso orgulho, uma revista bem feita, bem editada e não deve nada às melhores publicações no mundo. Mas se crivada com os olhos inteligentes do Fred, por exemplo, podemos perguntar, nesta linda edição, que já está em minha coleção, "quantas páginas de surfe temos do Brasil?" E a proporção foto-texto que o Fred criticou? Voltamos ao mercado, quem dita as regras.
Cabe ressaltar que Fred é meu amigo, um dos mais bonitos estilos de surfe que já vi, e além de saber tudo sobre o esporte, tem excelente caráter e é um visionário como empreendedor.
Vida longa para a Fluir, que encarna a vitória de cada um de nós, que pensamos o surfe de maneira apaixonada e também profissional.
Por fim, parabéns ao Fred pela bela idéia de "resgatar quem muito fez pelo nosso surfe", como ele mesmo diz, por nossa história.

Atenciosamente,
Jacques Nery.

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