Arpex

Arpex

Translate

sábado, 6 de agosto de 2016

Mãe!

 Mãe!

Poxa, este post me pegou de jeito, mistura de saudades com muito amor, amor que pelo menos, mesmo entre brigas homéricas, nunca economizei em declarações e gratidão. Minhas poucas qualidades vêem da educação desta senhora que sinto tanta falta, falta imensurável. Desde pequeno ela fez o possível e o impossível para atenuar nossas condições de instabilidade, fruto da luta política de meu pai e posteriormente dela também. Minha mãe se engajou na política só quando meu pai foi preso e eles já estavam separados. Nós deixou com parentes em BH e foi para a Bahia brigar com coronéis por condições melhores e pela liberdade de meu pai. Neste momento ela tinha suas razões de não estar ali.Nao preciso dizer que nestas horas foram poucos os que a acompanharam, devido ao medo óbvio de um regime truculento e anti- democrático que imprimia o terror em quem quer que fosse contra. Pois bem , dai ,ante os absurdos e as crueldades vivenciadas, ela que tinha sido educada para ser uma esposa e mãe sem envolvimento neste mundo político, virou uma leoa na luta contra a ditadura, chegando anos depois a se envolver na resistência, até mais do que o meu pai ,que resistia com a caneta na mão. Entre trabalhos para nós manter, cuidar etc, emprestava seu tempo a uma luta contra a nossa falta de liberdade, justiça e direitos. Em meio a isto, ainda tinha tempo para nos ( eu e meu irmão) levar para nadar , jogar futebol e viver a moleca que existia dentro dela. Nunca teve medo de nada, no dia que levei minha madeirite, que eu mal conseguia carregar, para estrear no ARPOADOR , o mar deu uma crescida, e como eu era muito franzino e nunca tinha surfado naquelas condições, olhei para ela e com medo falei: mãe, acho que hoje não dá para mim, ela como boa nadadora, olhou me, colocou a mão na cintura e disparou. Vc esperou muito por este dia, achas que vim até aqui atoa? Se vc não entrar , entro eu.Envergonhado, só me restou remar com todo medo do mundo e por sorte a corrente me jogou atrás do pontão. Só tinha as feras da época, meus amigos de planonda no Samarangue e eu lá fora me borrando de medo com meu pé de pato em um pé( assim que se surfava com pranchas de madeira). Depois de muito tempo consegui pegar uma onda e sai. Ela veio ao meu encontro e perguntou; como foi? Eu envergonhado e ainda aflito disse ... mãe, não sei se eh bem isto que quero, pois fiquei com muito medo. Ela riu com sua gargalhada alta de sempre , colocou a mão nas cadeiras e disse; não se impressione, o medo eh que vai te fazer respeitar seus limites, te dar coragem para vence-los e me tranquilizar, pois nem sempre poderei estar por perto. Esta era minha mãe. Estava na minha produtora de video na Sarah Kubitschek quando o tel tocou, era ela; filho, vem rápido que acho que tive um AVC e desmaiou sem desligar o telefone. Desci as escadas voando, corri dois quarteirões e ao entrar na minha rua parei um taxi e disse ao motorista, me ajuda, fomos ate meu edifício , pedi para ele subir comigo pois não tinha porteiro na hora e eu não aguentaria carrega lá sozinha. Chegamos e ela estava desmaiada, a carregamos e ao descer, chegou Julien, meu filho. O trajeto até o Copa D'or foi nossa despedida com palavras de amor entre lágrimas. 95% das pessoas não resistem a intensidade do acidente vascular que ela sofreu. Ela ainda aguentou ,foi operada com chances mínimas, sobreviveu, mas depois de uma semana internada ,pelo histórico médico vivido nos últimos anos, não resistiu. Lembrei de tudo isto para dizer que sempre estive com ela, até quando a abandonava para fazer uma viajem de meses e levava " mais de ano" sem estar com ela.Na volta , ela sempre com o sorriso farto de amor que transbordava e a cara sacana da frase brilhante de minha vó paterna;" nunca diga a um filho , não vá". Estive com esta mulher todos os dias da minha vida. Saudades D. Ceci, como te amo


Jacques


Obs , Sobre texto que contava o encontro com a mae antes de um desfecho lindo…Nao foi compativel…sorry...