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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Assim caminha a humanidade


ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE




RIO – Meneses Pimentel, professor de Direito Romano e Filosofia do Direito, governador (1935 a 37), interventor (37 a 45), deputado (51 a 55), ministro da Justiça (55 a 56), senador (59 a 71), foi tudo no Ceará.

Era interventor, chegou ao palácio do Catete a noticia de que tinha sido baleado em Fortaleza. Lourival Fontes, Chefe da Casa Civil de Getulio, telegrafou a Brasil Pinheiro, chefe da Casa Civil de Pimentel :

- Informe urgente se governador Meneses Pimentel foi alvejado.

Brasil Pinheiro informou urgente :

- Não. Continua preto.

Meneses Pimentel era mulato retinto.

MARILAKE

Ageu de Castro, coronel de muitas terras e importâncias, era deputado estadual pela região de Sousa, na Paraíba. O coronel era inteligente e rude, grosso e racista. Em João Pessoa, foi ao palácio falar com o governador Pedro Gondim. O oficial de gabinete, negro, não o conhecia, perguntou qual era o assunto. O coronel explodiu :

- Como é sua graça?

- Marilake Toscano.

- Negro, Marilake é nome de artista de cinema. De hoje em diante seu nome é Benedito. Be-ne-di-to, ouviu?

Meteu a mão na porta e entrou.

NEGRÃO

O poeta portugues Julio Dantas (“A Ceia dos Cardeais”) veio ao Brasil, foi a Belo Horizonte. O prefeito (1947 a 51) era Otacílio Negrão de Lima, irmão de Francisco Negrão de Lima. Estavam lá as autoridades. Não conhecia ninguem. Sabia apenas o nome do prefeito, doutor Negrão.

Olhou para um lado, olhou para o outro, abriu os braços e foi em direção ao cordão das autoridades :

- Doutor Negrão, meu abraço.

E abraçou o senador Melo Viana, mulato queimado, quase negro. LOURAS

Milton Santos, o saudoso jornalista, professor, poderoso intelectual (ganhou o Nobel de Geografia),morava no mesmo edifício e andar em que eu morava (o Napoli,na Barra, em Salvador).No golpe de 64, fomos presos.

Editorialista de “A Tarde”, o jornal mandou o veterano e respeitado secretario da redação ao quartel. O coronel, de pé, fez um discurso racista :

- Além de subversivo, é um negro importador de putas francesas.

Abriu uma gaveta, puxou uma foto :

- Olhe ele aqui, jantando com duas putas francesas importadas.

Uma das louras era a mulher do Milton. A outra era a mulher do secretario do jornal, que reagiu aos berros. O coronel quase leva um tabefe. O jantar tinha sido na casa do secretario, no aniversario dele.

Mesmo assim, Milton continuou preso. Só foi solto e exilado por interferencia do general De Gaulle, presidente da França, junto a Castelo Branco, porque o Milton era professor da Universidade de Strasburgo.

KENNEDY

Há meio século, em 1960, acompanhando a campanha de Nixon e Kennedy nos Estados Unidos, eu não compreendia como, em pleno século XX,na maior potencia econômica e militar do mundo,os negros não podiam sentar junto dos brancos no metrô, ônibus, trens, restaurantes, até nos bares.

Na minha Bahia, e no Brasil todo, negros e brancos nos sentávamos juntos nos mesmos bancos dos bondes, ônibus, trens, bares e restaurantes.

Também me chocaram os principais argumentos contra John Kennedy : era “católico, liberal e mulherengo”. Ganhou por menos de 1%.

OBAMA

Agora, apenas 48 anos depois, nos mesmos Estados Unidos, o negro Barack Obama, filho de africano muçulmano do Quenia, criado por um muçulmano, casado com uma negra, com duas filhas negras, está sendo consagrado como candidato do partido de Kennedy, à frente nas pesquisas.

É um acontecimento extraordinário na historia da humanidade. Jamais o bicho homem caminhou tanto em tão pouco tempo. A Idade Media e a Inquisição da Igreja Católica duraram mil anos. A escravidão, milhares de anos, desde a China e o Egito. O racismo ainda ronda por aí, mas envergonhado e cada dia mais desmoralizado e rejeitado.

Acredito que Obama vai ganhar. Mesmo que não ganhasse, já escreveu uma das mais belas paginas da historia universal. Fica só faltando convencer os Estados Unidos, Israel e outros de que Deus não lhes deu o direito de invadir, ocupar e matar outros povos. Um dia esse dia chegará.

CAYMMI

Todo mundo já contou uma do inesquecivel Caymmi. Também vou contar a minha. Helio Fernandes lembrou que ele nasceu no mesmo dia, mês e ano de Carlos Lacerda : 30 de abril de 1914. A mesma genialidade.

Numa tarde de 1990, em Agrigento, na Sicília, diante do céu azul e do mar azul do Mediterrâneo, Jorge Amado começou a lembrar-se da Bahia e me contou uma historia dele, de Caymmi e Lacerda, muito interessante.

Muito amigos nos anos 30, depois que Caymmi e Jorge chegaram ao Rio, foram passar um domingo em Paquetá. Com seu inseparável violão, Caymmi começou a dedilhar uma nova musica. Lacerda pegou um papel e escreveu dois versos. Jorge também escreveu mais uns. E pararam aí.

Caymmi concluiu depois. Creio que foi “É Doce Morrer no Mar”.

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